sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ainda não estou morto
mas vivo também não
estou apenas escondido
numa cave fechado
sem janelas
o ar rarefeito
e uma vela queimada
esta vida...
esta vida...
...não é vida nem é nada.



Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Dia X

“Vem, junta-te a mim
refugia-te nos meus olhos em sangue
lágrimas de destruição maciça.”

O dia da revolução está a chegar e o líder do maravilhoso mundo novo guiar-vos-á na derradeira batalha pelos direitos humanos!

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Amor mais que uma necessidade…uma perdição (Revisitado).

Partiste-me o coração num dia chuvoso
Recuperei dessas feridas que me tornaram nervoso
Encontro a verdade que paira no teu rosto
Espreito pela tua janela, á chuva, ansioso.

És o meu único pensamento verdadeiro
Imagino o teu olhar o teu tempo inteiro
Lembro que foste tu quem me tornou sincero
E de repente que não és mais um amor ligeiro.

“Ó meu amor, porque me ignoraste?
Não compreendes o sofrimento que em mim provocaste?
Já te amo há tanto tempo e ainda agora chegaste,
Mas sem demora, o meu amor renuncias-te.”

Terei enlouquecido com o teu olhar,
Ou serei um vencido que morreu a lutar?
Não digam que me estou a matar
Pois é grande a vontade do teu amor ganhar.

Acredito nas histórias que te conto ao ouvido
Quero prometer-te o mundo mas não consigo
Vivo contigo dentro de mim mas continuo sozinho
Se realmente queres o paraíso dá-me a mão e vem comigo.

Imaginas o que passei para chegar a ti?
Pensavam que eu era louco mas agora estou aqui!

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Bosque na Escuridão (revisitado).

Acordei numa noite de nevoeiro
Os cães uivavam ao luar
As sombras emergiam na escuridão
O gato miava no telheiro
As árvores continuavam a pingar
Como que a semear o chão.

Nessa noite senti o medo
Como se alguém se aproximasse
Um ruído diferente chegou-me aos ouvidos
Tinha chegado demasiado cedo
Como se alguém não chegasse
E os ruídos fossem ganidos.

Aconcheguei-me a uma árvore
Para tentar dormir um pouco
Tive sonhos repentinos
Tentava não chegar tarde
Corria como um louco
E continuavam os ganidos.

Acordei desesperado
E fugi daquele lugar
Procurando o esquecimento
Pensava não poder estar parado
Alguém me poderia apanhar
Mas como viver com este sofrimento?


Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Página em branco... 1.1.

...mais uma pagina em branco
quanto mais branco é o papel
mais eu enlouqueço
tremo
consciente adormeço
irrequieto pergunto
insensato ajo
e a pagina em branco
faz-me enlouquecer
durmo por breves minutos
lembro o antes
não o depois
o agora já era
vivo lá fora
mendigo na noite
observo a minha sombra
linda na penumbra
não chega
há algo que falta
qualquer coisa diferente
que não seja uma pagina em branco
em branco não
ou enlouqueço.

O melhor da vida são os “entretantos”,
aqueles que vêm uns a seguir aos outros.

26-04-2009

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Memorias riscadas 1.1

Quanto mais tento esquecer
melhor me lembro de manhã cedo.
Quanto mais o sol se levanta no céu
mais os meus olhos se fecham.
Resguardo-me num casaco
que me cobre a memória
e alivia a dor por breves momentos.

O rasto de sombra que deixei
jamais será apagado
apenas diluído em ilusões
outras vidas
outras histórias
outros eu’s.
Não me vejam como um só
sou muito mais
de muitas maneiras.

Desejo ficar e fugir
entrando e saindo
de locais perdidos
memorias imortais
batalhas infernais
no fundo do meu coração.
Tenho dias em que quero recordar
e noites que desejo esquecer
manhãs que preciso amar
e tardes que tenho que sofrer.

Quero abrir bem os olhos
e dizer-lhe que a amo
e depois odiá-la
passar-lhe a mão pelo cabelo
e dizer adeus.


Carrego nos ombros o peso mais pesado de todos
aquele que nos faz querer a solidão
que nos faz fechar os olhos quando o sol se ergue
aquele que jamais me deixará esquecer.

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Coisas 1.1

No inicio eram só gatos e cães…

depois vieram os seus donos…

e a guerra começou.



Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Porque me apetece!

Tempos de mudança.

Parece que estou perdido outra vez
mas desta vez não sei onde me encontro
pedras indicam-me um caminho que não quero seguir
e o horizonte é o meu único sentido
o meu melhor amigo
aquele que me leva para longe
para um lugar desconhecido.

Sem medo submeto me à minha sina
alma aparecida de um recanto vazio
sou de tal maneira submisso
que ninguém me aborda, se mete comigo
dois passos á frente e já nem me lembro
o que disse e a quem o disse
as poucas recordações que tenho
não dou a ninguém
ofereço a minha boa vontade
ofereço todo o meu conforto
mas não o coração ou a saudade
não posso perder o que me resta.

Fecho os olhos procurando a liberdade
è só do que preciso
embora acorrentado
não são as correntes que me prendem
o que eu quero é ser realmente livre
livre aqui nesta masmorra, mas também lá fora
no meio das pessoas é onde me sinto mais preso
e eu agora quero ser livre
quero ser livre já.

Ser livre agora e voar
com um coração vazio
e uma alma penada
quero sentir o vento frio da liberdade
sentir o chão quente da responsabilidade
e voar novamente para o horizonte
Talvez encontre um lugar mais ameno,
menos exigente quem sabe?



Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Burn My Shadow.

Esvazio garrafas
frascos de comprimidos
e desprezo amigos
espetando facas no peito
rejeito
mas espreito
o diabo que vive em mim
pelo buraco da fechadura
de uma porta fechada
fotografia rasgada
tatuada no peito
sem nada
desdenho
mas nem compro nem vendo
sigo sem dó
sem preconceito
e sem jeito
seguro-me e dou mais uma facada
no sentimento mais antigo
o meu mais velho inimigo
de quem não me separo
nem consigo
não respiro
engulo em seco
acordo num beco
sem saída e sem vida
acabo a rir
sem me despedir
mas por respeito
vou sair em silêncio
e espero não acordar do mesmo jeito.

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

00:50, 1.1.1999

Ano novo suicida,
a morte continua minha amiga
a vontade em mim suscita,
uma nova partida.

Já não sou a mesma pessoa,
os versos não são de amor,
são versos sim de dor,
e nem que a morte não doa,
sofrerei como toda a gente
e desapareço desta vida tristemente.

Não percebo tanto sentimento,
nem um passado que não aguento.
Enquanto vivem dias de festa,
interrogo-me que vida é esta.

Viverei até que me leve a morte
A conclusão de tudo isto não é uma sorte
Mas sim só mais uma vida perdida
Em tão amarga e solitária vida.

Esta é a noite da minha perdição,
encontro-me de novo na estrada,
deitado no quente alcatrão,
pensativo,
quando na cabeça não tenho nada,
e nada tenho no coração.

Mas melhores dias virão
como se fosse um perdão
ou uma premonição…

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

A menina dos olhos cor de esperança.

Como tudo começou
sem grande jeito
apenas olhei nos seus olhos
e tudo fez sentido
o coração parou por breves momentos
algo de estranho mas bom
temo dizer que tive medo
tudo aquilo era algo de novo para mim
já tinha perdido a esperança na humanidade
mas o seu abraço
sincero, divinal
fez-me esquecer tudo o resto
esta tudo cá dentro
todo aquele sentimento
fez-me sentir vivo novamente
senti o meu coração inundar-se de lágrimas
mas senti-me tão forte
capaz de enfrentar o mundo
e acreditar nas pessoas
de repente tudo tinha mudado
agora acredito que tudo é possível
até eu tinha direito a um oásis
o meu deserto tornou-se um paraíso
um ensinamento
cheio de vida, de esperança
compreendi que a paz pode ser uma realidade
que podemos ser algo mais
que podemos fazer algo mais
a vida é feita de pormenores
que nos passam despercebidos
é nos sorrisos das crianças que busco a felicidade
na verdade dos seus olhos recupero
e vivo mais um bocadinho.


Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

A estrada...

De volta à estrada
pelo caminho mais longo
pernoito numa casa assombrada
pelos meus próprios demónios
o meu passado persegue-me
por muito que tente fugir
ele sempre está um passo á minha frente
eu sei que não estou demente
mas vivo em desespero.

Não compreendo por que não esqueço
porque não avanço na minha vida
caminho em círculos
a chegada é também a partida
e por muitos atalhos que tome
o sofrimento estará sempre lá
sorridente, á minha espera.
Temo jamais encontrar uma saída
um momento de felicidade verdadeira
sem falsos sorrisos
sem demónios esfomeados
por devorar o pouco que me resta.

Não foi isto que escolhi
a linha da minha vida era suposta ser alegre
algo em grande
sempre pensei estar destinado a grandes coisas
pelo menos foram essas as promessas prometidas
mas nunca cumpridas, pelo contrário.
O futuro não me deixa escapar
de um passado que deixou marcas profundas
tenho os pulsos em sangue
chagas do destino.

Os abutres já me rodeiam
esperam um pequeno fraquejo
um passo em falso
e eu tento com todas as minhas forças
continuar o meu caminho
por terras distantes
dentro do meu coração.
Talvez o meu anjo da guarda olhe por mim
talvez seja este o dia em que me toque
e faça tudo ficar bem
fantasio com esse dia
mas é tarde demais
não desisto nem perco a réstia de fé que possuo
aprisionada em mim
mas é difícil
parece-me até impossível.

Não quero com isto dizer
que a vida acabou para este pobre possuído
pelos seus próprios demónios
pelos seus pensamentos mais obscuros.
Não me considero um derrotado
estou simplesmente na cruz
sem causa aparente
com os sentidos inebriados
fraco mas com vontade
de seguir um outro caminho
não que seja mais fácil
mas que me leve para longe
para outra vida
por outra estrada
outro atalho
para a felicidade, porque não?
Com alguma sorte….quem sabe.


Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo
"Vou para fora cá dentro
viagem ao infinito
mergulho e grito
no mar salgado da solidão…"

Culpo a vida por esta solidão avassaladora,
quando na verdade sou o único culpado,
sou eu que afasto as pessoas que tanto amo de mim,
sempre inventando desculpas,
estou farto de ter pena de mim próprio,
farto de sofrer por não ter os amigos e a família comigo,
farto de esconder os meus sentimentos,
farto de ter medo de lhes dizer que os amo a todos e que jamais os esquecerei,
farto de estar longe e de me distanciar ainda mais,
receio ter-me distanciado tanto que agora não consiga regressar,
será tarde demais?
Serei capaz de regressar a casa?
Qual casa?
Já mal me lembro onde é ou o que significa.
Então volto para onde, para quem?
Estará alguém a minha espera quando voltar?
Casa…estranho, não me diz nada.

"Afasto-me lentamente, desta vida, tristemente…"

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Bem me parecia….

O Receio do Sofrimento

Todos os sofrimentos que nos cercam, é-nos necessário sofrê-los igualmente. Todos nós, não temos um corpo, mas um crescimento, e esse conduz-nos através de todas as dores, seja sob que forma for. Do mesmo modo que a criança, através de todos os estádios da vida, se desenvolve até à velhice e até à morte (e cada estádio parece no fundo inacessível ao precedente, quer seja desejado ou receado), do mesmo modo nos desenvolvemos (não menos solidários da humanidade do que de nós próprios) através de todos os sofrimentos deste mundo. Para a justiça não há, nesta ordem de coisas, lugar algum, não mais do que para o receio dos sofrimentos ou para a interpretação do sofrimento como um mérito.

Franz Kafka, in "Meditações"


Evitar o Sofrimento

Privamo-nos para mantermos a nossa integridade, poupamos a nossa saúde, a nossa capacidade de gozar a vida, as nossas emoções, guardamo-nos para alguma coisa sem sequer sabermos o que essa coisa é. E este hábito de reprimirmos constantemente as nossas pulsões naturais é o que faz de nós seres tão refinados. Porque é que não nos embriagamos? Porque a vergonha e os transtornos das dores de cabeça fazem nascer um desprazer mais importante que o prazer da embriaguez. Porque é que não nos apaixonamos todos os meses de novo? Porque, por altura de cada separação, uma parte dos nossos corações fica desfeita. Assim, esforçamo-nos mais por evitar o sofrimento do que na busca do prazer.

Sigmund Freud, in ‘As Palavras de Freud’

Nameless 1.1

Tão obscuros são os pensamentos
Quando penetro a tua mente
Como uma poderosa serpente
E sei o que imaginas
E quanto mais te percebo mais me fascinas
Como se na tua cabeça vivesse o meu mundo
Onde encontro o sentimento mais profundo.

Se bastasse viver este momento
Se ouvisse as palavras que me trás o vento
Acreditar que o amor não é um contratempo
Mas sim o mais intenso sentimento
Mas acreditar não é ser esperto
Mas sim o refugio mais perto
Onde o sentimento continua em aberto.

Basta-me recordar um olhar
Para perceber o que se está a passar
Que é tudo uma ilusão
Pois somos enganados pelo coração
Ou talvez não…

Só quero saber toda a verdade
Mas de ti tenho tanta saudade
Que definho de tanto sofrer
Por não te voltar a ver
Ou por hoje nada saber.

Ontem de ti me despedi
Da mesma maneira que te conheci
Mas não volto a chorar
Nem por ontem,
nem por hoje,
nem pelo amanha que há-de chegar.

Adeus.

01/03/2000

Estas palavras foram escritas depois do meu primeiro grande amor,
aquela paixão que me ensinou através do sofrimento de todo o processo,
que amar é bom, que não devo ter medo, nem fugir dele,
“o que não nos mata torna-nos mais fortes”,
adoro amar e sofrer,
sofrer por amor será para mim o sentimento mais bonito e mais verdadeiro.

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Sentimento comum?

Nunca mais vou chorar.
Nunca mais vou gritar liberdade.
Nunca mais te vou olhar.
Nem passear pela cidade.

Serei aquele que sempre odiei,
um apóstolo, um Messias, não sei.
Alguém que mate e que morra,
que fuzile e que sofra.

Não mais interpretarei Romeu e Julieta,
serei pacato e não vedeta.
Roubarei as estrelas do céu
e enterro-as num sítio só meu.

Digo isto porque de ti gosto,
a loucura é a felicidade do meu rosto.
Não interessa o que lá vai, lá vai,
quem corre à chuva sempre cai.

Não sabes que já morri?
Nem imaginas o cianeto que bebi!
Estava um bocado lixado nesse dia,
tinha descoberto que da vida nada sabia.

Seremos como um 2 em 1,
partilharemos um sentimento comum.

26/08/1998

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Bem-vindos a este meu mundo...nesta viagem ao fundo…

Ao fundo mais profundo,
ao fundo do meu coração,
despedaçado e forçado,
amarrado e roubado.

Bem-vindos ao meu mundo,
um mundo angustiante,
vazio e desesperante.

Bem-vindos
façam desta a vossa casa,
abusem da minha amargura,
bebam do meu sangue
e comam da minha carne.

Bem-vindos novamente,
reconhecem talvez este velho demente?
Que a vossa estadia seja permanente.

Estejam à vontade
neste também vosso mundo
bem lá no fundo,
no fundo do meu coração.

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"Voltei,
voltei por poucas razões quase insignificantes.
Vim apenas visitar velhos amigos, demónios, talvez.
-“Estes são os últimos dias das nossas vidas”, alguém disse,
não conhecendo a pessoa, confio e aguardo. "

Acordo com um suspiro
Respiro fundo, tenho frio
Um agasalho torna me mais forte
levanto a cabeça, mas sem sorte.
Mas dói muito perder alguém
Acordar sozinho sem ninguém
Sem um aconchego sem uma esperança
Sem um carinho sem uma lembrança
Mas baralho e volto a dar
Nem este sofrimento me há-de parar
Pois a minha sorte Há-de voltar.


"Na noite que passou pedi a Deus para morrer, para me levar, durante a noite, sem barulho e sem dor, talvez com algum aconchego.
Esperei o abraço da morte toda a noite, quase a senti tocar-me no ombro, tentando acordar-me do sono profundo, mas não aconteceu, não entendo, sinto-me a mais neste mundo, já não tenho ninguém a minha espera e eu só quero um aconchego,
Um aconchego,
Um aconchego, não peço muito,
Um aconchego PORRA!
Agora por escrito peço a Deus que me leve esta noite, preciso mesmo desse aconchego, leva-me sem barulho e sem dor.
Peço desculpa a minha Avó, mas falhei e não aguento mais."

Este Texto foi escrito há um ano, numa recaída que tive, foi a segunda vez que chorei por não ter comigo a minha Avó Deolinda, uma pessoa que sempre viu o que de melhor havia nas pessoas, a minha líder espiritual que me deixou na altura que mais precisava dela, a minha adolescência. Queria fazer-lhe este tributo e dizer-lhe o quanto a adoro e pedir-lhe desculpa pelas últimas palavras que lhe dirigi, espero que ela compreenda a sinceridade daquelas palavras e me perdoe.

Obrigado Vó, por teres visto o que de melhor havia em mim.

Do teu querido neto João.


Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Então em que é que ficamos?

A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre.
E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.

Fernando Pessoa, in ‘Livro do Desassossego


Um homem é dotado de livre arbítrio e de três maneiras: em primeiro lugar, era livre quando quis esta vida; agora não pode evidentemente rescindi-la, pois ele não é o que a queria outrora, excepto na medida em que completa a sua vontade de outrora, vivendo.
Em segundo lugar, é livre pelo facto de poder escolher o caminho desta vida e a maneira de o percorrer.
Em terceiro lugar, é livre pelo facto de na qualidade daquele que vier a ser de novo um dia, ter a vontade de se deixar ir custe o que custar através da vida e de chegar assim a ele próprio e isso por um caminho que pode sem dúvida escolher, mas que, em todo o caso, forma um labirinto tão complicado que toca nos menores recantos desta vida.
São esses os tês aspectos do livre arbítrio que, por se oferecerem todos ao mesmo tempo formam apenas um e de tal modo que não há lugar para um arbítrio, quer seja livre ou servo.

Franz Kafka, in "Meditações"


Contemplando uma cascata, acreditamos ver nas inúmeras ondulações, serpenteares, quebras de ondas, liberdade da vontade e capricho; mas tudo é necessidade, cada movimento pode ser calculado matemáticamente. O mesmo acontece com as acções humanas; poder-se-ia calcular antecipadamente cada acção, caso se fosse omnisciente, e, da mesma maneira, cada progresso do conhecimento, cada erro, cada maldade. O homem, agindo ele próprio, tem a ilusão, é verdade, do livre-arbítrio; se por um instante a roda do mundo parasse e houvesse uma inteligência calculadora omnisciente para aproveitar essa pausa, ela poderia continuar a calcular o futuro de cada ser até aos tempos mais distantes e marcar cada rasto por onde essa roda a partir de então passaria. A ilusão sobre si mesmo do homem actuante, a convicção do seu livre-arbítrio, pertence igualmente a esse mecanismo, que é objecto de cálculo.

Friedrich Nietzsche, in ‘Humano, Demasiado Humano’


Realmente, se um dia de facto se descobrisse uma fórmula para todos os nossos desejos e caprichos – isto é, uma explicação do que é que eles dependem, por que leis se regem, como se desenvolvem, a que é que eles ambicionam num caso e noutro e por aí fora, isto é uma fórmula matemática exacta – então, muito provavelmente, o homem deixaria imediatamente de sentir desejo.
Pois quem aceitaria escolher por regras? Além disso, o ser humano seria imediatamente transformado numa peça de um orgão ou algo do género; o que é um homem sem desejos, sem liberdade de desejo e de escolha, senão uma peça num orgão?

Fiodor Dostoievski, in "Cadernos do Subterrâneo"

Paraíso Negro

Vivo com uma tesoura espetada no peito
Arranco todos os sinais para ficar sem nenhum defeito
Enfrento a vida dizendo “ o mundo é perfeito”
Ninguém acredita em mim porque sou suspeito.

Tenho o estranho hábito de comer borboletas
Quando posso faço desfeitas
Acordo e tenho as mãos pretas
Tomo um pequeno-almoço recheado de tretas.

Invento tendências suicidas e outras megalomanias
Vomito para um saco lápis e afias
Viajo neste mundo como tu querias
A água que bebo sai às fatias.

Habito num estranho lugar chamado paraíso
Sonho com o mar e quase me mijo
Deito fora a liberdade pois já não preciso
Tenho vontade de te amar desde o inicio.

A luz enriquece-me o coração
Á noite dou saltos no meu colchão
Rezo todos os dias a pedir perdão
Tento agarrar a paz e largar a solidão.

És a ilusão que me apoquenta
Sou a solidão o mal e a tormenta
Personifico a vontade de quem se aguenta
Olho-a nos olhos mas ela não me enfrenta.

Procuro-te sem nunca te encontrar
Continuo a não saber nadar
Senti-me completo entre o sol e o mar
E o meu tempo está-se a acabar.

A vida é uma mentira
Serei a imagem de uma geração perdida?
Lembro-me de ti quando menina
Andamos todos à procura da vida.

A pele já me começa a cair
Tenho um retrato contigo a sorrir
Não vejo o dia em que hei-de partir
A maré continua a subir.

O tempo passa mas não depressa demais
Imagino futuros funerais
Sinto tanto a falta dos meus pais
Sentado à beira de um cais.

Já os bichos entram dentro de mim
Não me lembro do que prometi
Mergulhei no mar, finalmente consegui
Perdoa-me a saudade pois não te esqueci.

De noite ouço os teus lamentos
Vivo dia a dia com torturas diferentes
Deram frutos os meus rebentos
Só escaravelhos são para ai quinhentos.

Torna-se um absurdo viver neste estado
Tentei fugir mas não deu resultado
O único descanso que tive foi num feriado
Recupero todos os dias num canto sossegado.

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

Nameless 1.0

Vivo com uma loucura que não compreendo
É com o medo mais profundo que eu me defendo
Peço piedade pelas minhas acções
De dia roubo fruta e à noite parto corações.

Perco a respiração por momentos
Quero gritar e invento lamentos
Perdoem-me a vontade de partir
Continuo sozinho, continuo a fugir.

Tudo aquilo em que acredito desapareceu
Percorro uma estrada sem fim em direcção ao céu
Tento lembrar-me da minha última alegria
E esqueci o amor por que tanto sofria.

Choro em direcção ao sol-posto
Triste, limpo as lágrimas do rosto.
Tenho pena de acabar assim comigo
Mas a vida sem ti jamais fará sentido.

Precisamos sempre de uma força especial para continuar...

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo