quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Paraíso Negro

Vivo com uma tesoura espetada no peito
Arranco todos os sinais para ficar sem nenhum defeito
Enfrento a vida dizendo “ o mundo é perfeito”
Ninguém acredita em mim porque sou suspeito.

Tenho o estranho hábito de comer borboletas
Quando posso faço desfeitas
Acordo e tenho as mãos pretas
Tomo um pequeno-almoço recheado de tretas.

Invento tendências suicidas e outras megalomanias
Vomito para um saco lápis e afias
Viajo neste mundo como tu querias
A água que bebo sai às fatias.

Habito num estranho lugar chamado paraíso
Sonho com o mar e quase me mijo
Deito fora a liberdade pois já não preciso
Tenho vontade de te amar desde o inicio.

A luz enriquece-me o coração
Á noite dou saltos no meu colchão
Rezo todos os dias a pedir perdão
Tento agarrar a paz e largar a solidão.

És a ilusão que me apoquenta
Sou a solidão o mal e a tormenta
Personifico a vontade de quem se aguenta
Olho-a nos olhos mas ela não me enfrenta.

Procuro-te sem nunca te encontrar
Continuo a não saber nadar
Senti-me completo entre o sol e o mar
E o meu tempo está-se a acabar.

A vida é uma mentira
Serei a imagem de uma geração perdida?
Lembro-me de ti quando menina
Andamos todos à procura da vida.

A pele já me começa a cair
Tenho um retrato contigo a sorrir
Não vejo o dia em que hei-de partir
A maré continua a subir.

O tempo passa mas não depressa demais
Imagino futuros funerais
Sinto tanto a falta dos meus pais
Sentado à beira de um cais.

Já os bichos entram dentro de mim
Não me lembro do que prometi
Mergulhei no mar, finalmente consegui
Perdoa-me a saudade pois não te esqueci.

De noite ouço os teus lamentos
Vivo dia a dia com torturas diferentes
Deram frutos os meus rebentos
Só escaravelhos são para ai quinhentos.

Torna-se um absurdo viver neste estado
Tentei fugir mas não deu resultado
O único descanso que tive foi num feriado
Recupero todos os dias num canto sossegado.

Em directo do fim do mundo
João Santos aka CaptainLenovo

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